segunda-feira, 24 de março de 2014

Dom Pedro I

Dom Pedro I (Nascimento 12 de Outubro de 1978 Queluz - Portugal— Morte 24 de Setembro de 1834(35 anos) Queluz - Portugal, foi o fundador e primeiro monarca do Império do Brasil. Como rei D. Pedro IV, reinou brevemente em Portugal, onde também ficou conhecido como o Libertador e também como o Rei Soldado. Nascido em Lisboa, Pedro I foi a quarta criança do rei Dom João VI de Portugal e da rainha Carlota Joaquina, e assim membro da Casa de Bragança. Quando seu país foi invadido por tropas francesas em 1807, foi com sua família para o Brasil.
assinatura Dom Pedro I

Da revolução liberal ao império

A deflagração da Revolução Liberal de 1820 no Porto, com a rápida adesão de Lisboa e o resto do país, obrigou o pai de Pedro I a retornar a Portugal em abril de 1821, deixando-o para governar o Brasil como regente. Teve de lidar com as ameaças de revolucionários e com a insubordinação de tropas portuguesas, as quais foram, no entanto, todas subjugadas. A tentativa do governo português de retirar a autonomia política que o Brasil gozava desde 1808 e tornar o país que havia sido elevado a condição de reino unido a Portugal em uma colônia ultramar novamente foi recebida com descontentamento geral. Pedro I escolheu o lado brasileiro e declarou a Independência do Brasil de Portugal em 7 de setembro de 1822. Em 12 de outubro foi aclamado imperador brasileiro e, em março de 1824, já havia derrotado todos os exércitos leais a Portugal. Poucos meses depois, Pedro I esmagou a Confederação do Equador, principal reação contra a tendência absolutista e a política centralizadora de seu governo.

As guerras

Uma rebelião separatista na província sulista da Cisplatina no início de 1826, e a tentativa subsequente de sua anexação pela Províncias Unidas do Rio da Prata (futura Argentina) levaram o império a Guerra da Cisplatina. Em março de 1826, Pedro I se tornou brevemente rei de Portugal com o título de Pedro IV antes de abdicar em favor de sua filha mais velha, Maria II. A situação piorou em 1828 quando a guerra do sul resultou na perda da Cisplatina. Nesse mesmo ano, em Lisboa, o trono de Maria II foi usurpado pelo príncipe Dom Miguel I, irmão mais novo de Pedro I. O relacionamento sexual escandaloso e concorrente com uma cortesã maculou a reputação do imperador. Outras dificuldades surgiram no parlamento brasileiro, onde o conflito sobre se o governo e suas políticas seriam escolhidos pelo monarca ou pela legislatura dominaram os debates políticos de 1826 a 1831. Incapaz de lidar com os problemas do Brasil e de Portugal ao mesmo tempo, em 7 de abril de 1831 Pedro I abdicou em favor de seu filho Dom Pedro II e partiu para a Europa.

Dom Pedro I invade Portugal

Dom Pedro  invadiu Portugal à frente de um exército em julho de 1834. Frente ao que parecia inicialmente uma guerra civil nacional, logo se envolveu num conflito em escala muito maior que abrangeu toda a península Ibérica numa luta entre os defensores do Liberalismo e aqueles que procuravam o retorno ao Absolutismo. Dom Pedro  morreu de tuberculose em 24 de setembro de 1834, apenas poucos meses após ele e os liberais terem emergido vitoriosos. Foi consagrado por contemporâneos e pela posteridade como uma figura chave que ajudou a propagar os ideais liberais que permitiram ao Brasil e a Portugal a se moverem de regimes autoritários a formas de governo representativo.

Da infância a juventude

Pedro de Alcântara nasceu em Queluz, Portugal, em 12 de outubro de 1798 sendo filho de João VI de Portugal, rei de Portugal, Brasil e Algarves e Dona Carlota Joaquina de Bourbon, infanta da Espanha. Seus avós paternos eram Pedro III, Rei de Portugal e Algarves e Maria I, Rainha de Portugal e Algarves, enquanto seus avós maternos eram Carlos IV, rei da Espanha e dona Maria Luísa de Bourbon, princesa de Parma. Era o quarto filho, e segundo varão de seus pais, e não era esperado que um dia viesse a ascender ao trono.
O falecimento de seu irmão mais velho, António de Bragança, em 1801, tornou-o o herdeiro de seu pai, então regente em nome de dona Maria I.
Pedro de Alcântara em torno de 1808
Artista: Jean François Badoureau
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Em 1807, João VI, preocupado com os acontecimentos na Europa, realizou um plano de enviar o seu filho mais velho para o Brasil e assim impedir que a mais valiosa colônia do império português pudesse sofrer o mesmo destino das colônias espanholas. Entretanto, a invasão de Portugal por tropas de Napoleão Bonaparte o fizeram mudar de ideia e decidiu-se pela transmigração não só da família real portuguesa, mas de grande parte da nobreza portuguesa e de todo o aparato estatal do Império Lusitano.O príncipe passou a infância no Palácio de Queluz, onde também nascera, e convivera com a avó paterna, que estava completamente insana. Sua mãe não lhe dava muita atenção, preferindo voltar-se para seu irmão mais novo, Miguel. Seu pai o estimava muito, considerando-o o filho predileto, mas por ser reservado e sofrer de depressão, mantinha pouco contato com o seu herdeiro.
No Brasil, Pedro viveu no Palácio da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, Rio de Janeiro, junto com seu pai e seu irmão Miguel de Bragança, mas também residiu na Fazenda de Santa Cruz e no Paço Imperial. Pedro e seu irmão Miguel compartilhavam a aparência, o temperamento e afeições. Ambos possuíam uma relação de amor e ódio um com o outro, e brincavam e brigavam quando crianças. Na infância, os dois irmãos criavam pequenos regimentos formados por amigos que se combatiam simulando batalhas entre exércitos.
A predileção de Pedro I pela vida militar não se restringiu apenas à infância, e mesmo como adulto manteve o gosto pela carreira. Anos mais tarde, em 1825, um estrangeiro diria que não havia no Brasil pessoa melhor que o então imperador no manejo com armas.
As principais atividades do herdeiro da coroa portuguesa até os seus dezesseis anos de idade foram os exercícios físicos, a equitação e a marcenaria. Seu interesse pelos cavalos não se restringia a apenas montar, mas também cuidava dos mesmos, arreando, dando banho e até mesmo os ferrando.
Na mocidade se divertia indo as tavernas do Rio de Janeiro, que frequentava em companhia dos empregados do palácio, mas sempre disfarçado para que não fosse reconhecido. Em uma dessas andanças noturnas conheceu Francisco Gomes da Silva, que mais tarde se tornaria um dos seus mais fiéis amigos e seria conhecido como o "Chalaça".

Dom Pedro I e a escravidão no Brasil

Dom Pedro I não acreditava em diferenças raciais e muito menos em uma presumível inferioridade do negro como era comum à época e perduraria até o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O imperador deixara clara a sua opinião sobre o tema: "Eu sei que o meu sangue é da mesma cor que o dos negros". Era também completamente contrário a escravidão e pretendia debater com os deputados da assembleia constituinte uma forma de extingui-la.
O monarca acreditava que a melhor maneira de eliminar a escravidão seria de uma maneira gradual em conjunto com a imigração de trabalhadores europeus para substituir a mão-de-obra que viria a faltar.
Pedro tinha noção de que não detinha meios para abolir o sistema escravocrata, a não ser convencendo a sociedade brasileira. Contudo, a escravidão não era utilizada por apenas ricos aristocratas como popularmente se imaginava. Pessoas humildes compravam com seus poucos recursos escravos que pudessem trabalhar por elas. Libertos também detinham seus próprios escravos e até mesmo estes possuíam escravos.
A escravidão não se resumia somente a negros, e havia casos de brancos escravos também. O Imperador combatia publicamente a escravidão e entrava em choque com a população brasileira como um todo que via em suas ações uma demonstração de autoritarismo. Segundo o próprio Pedro I:
"Os escravos nos inoculam todos os seus vícios, e nos fazem corações cruéis, inconstitucionais e amigos do despotismo. Todo senhor de escravo desde pequeno começa a olhar o seu semelhante com desprezo, acostuma-se a proceder a seu alvedrio [arbítrio], sem lei nem roca, às duas por três julga-se, por seu dinheiro e pelo hábito contraído, superior a todos os mais homens, espezinha-os [humilha-os] quando empregado público, e quando súdito em qualquer repartição não tolera nem sequer a menor admoestação[repreensão com brandura], que logo o seu coração, pelo hábito de vingar-se e de satisfazer-se as suas paixões, lhe esteja dizendo: ‘Se tu foras meu escravo’…"
Poucas foram as pessoas que se aliaram a Pedro na primeira metade do século XIX na luta pelo fim da escravidão, tais como: José Bonifácio, João Severiano Maciel da Costa e Hipólito da Costa. A maior parte, entretanto, permaneceu hostil às ideias abolicionistas. Seriam necessárias várias décadas até que o seu filho, Pedro II, e sua neta, a princesa Isabel, lograssem convencer a sociedade brasileira da necessidade de extinguir a escravidão, que era chamada de "cancro [câncer] social".
De acordo com José Murilo de Carvalho, a prova "da força da escravidão é o fato de que nenhuma das muitas revoltas regenciais propôs sua abolição geral. Quando os malês se rebelaram em 1835, buscavam a liberdade apenas para os irmãos de fé muçulmana". O abolicionismo de Pedro I e de Pedro II viria a custar a coroa a ambos. Sobre o papel do primeiro imperador na luta pelo fim da escravidão, a historiadora Isabel Lustosa diz que:
[…] d. Pedro I foi um governante muito à frente da elite brasileira do seu tempo. Ele afrontou os valores da escravidão, combatendo com vigor o hábito de alguns funcionários públicos de mandar escravos para trabalhar em seu lugar; concedendo lotes aos escravos que libertou na Fazenda de Santa Cruz; no Rio de Janeiro e na Bahia, onde os ricos circulavam em liteiras e qualquer pessoa que pudesse ter dois escravos tinha condições de se fazer transportar pelas ruas numa rede amarrada num pau que os escravos sustentavam nos ombros, lembra Macaulay, d. Pedro andava a cavalo ou circulava numa carruagem puxada por cavalos ou mulas e dirigida por ele mesmo; e, como foi visto, não permitiu que seus súditos lhe prestassem a homenagem tradicional de carregar sua carruagem nas costas por ocasião do Fico.

Educação

O início da instrução de Pedro I coube a "austera e grave" dona Maria Genovena do Rego e Matos e em seguida tornou-se responsabilidade do erudito Frei Antônio de Nossa Senhora de Salete. O clérigo lhe ensinou o catecismo e latim. Seu ensino na língua latina foi aperfeiçoado pelo Frei Antônio de Arrábida, futuro Bispo de Anemúria. Também foi educado em matemática, disciplina pela qual Pedro era "apaixonado", pelo "cultíssimo" João Monteiro da Rocha, que ao falecer em 10 de dezembro de 1819, legou a Pedro a sua vasta biblioteca pessoal.
Aprendeu francês com o cônego René Pierre Boiret e inglês com Guilherme Paulo Tilbury, capelão da Divisão Militar da Guarda Imperial de Polícia. João Rademaker também atuou como preceptor do príncipe e "foi verdadeiramente o seu mestre, no sentido preciso e restrito do termo, lucrou imensamente o jovem príncipe. Sábio e poliglota, o antigo ministro de Portugal na Dinamarca e em Buenos Aires reunia em si as qualificações indispensáveis a direção moral e cientifica de D. Pedro".
Além do seu português nativo, Pedro sabia ler, escrever e falar em francês e latim, e compreendia o inglês e o alemão.
Na viagem da Família Real portuguesa ao Brasil em 1808, Pedro com apenas nove anos de idade, quando não estava entre os marinheiros aprendendo as manobras de bordo, era sempre visto sentado encostado em um dos mastros do navio lendo a clássica obra Eneida do romano Virgílio no original em latim. Leu os sermões do padre Antônio Vieira, as cartas de Madame de Sévigné, as obras de Edmund Burke, de Voltaire e de Benjamin Constant. Até o fim de seus dias o príncipe reservou diariamente cerca de duas horas à leitura e ao estudo. Também escreveu diversas poesias:
Meu amor, meu grande amor,
Sem ti não quero viver
Tua imagem é a meiga flor
Que eu vivo a bem-querer…
Assim como seus antepassados da Casa de Bragança, Pedro tinha fascinação e vocação para a música. Foi educado na arte musical por José Maurício Nunes Garcia, Marcos Antônio Portugale Sigismund Neukomm. O príncipe compôs diversas obras, tais como: "uma missa cantada, sinfonias e um Te Deum, além de hinos, como o Hino da Maçonaria, uma das versões do hino da Independência do Brasil e o Hino da Carta, considerado até 1911 como o Hino Nacional português".
Pedro I compondo o Hino Nacional (hoje Hino da Independência), em 1822. Artista: Augusto Braga.
O príncipe sabia tocar instrumentos musicais 
como: piano, flauta, fagote, trombone, violino, clarinete, violão, lundu e cravo. Tinha grande interesse por atividades que requeressem uma certa habilidade física, como pinturalitografiaescultura e frequentou constantemente as aulas de desenho da Academia Imperial de Belas Artes.
Era também um excelente mecânico, marceneiro e torneiro, além de desprender bastante tempo a exercícios físicos, equitação e caça.
Apesar da visão costumeira que se trata nos livros escolares, Pedro I não era o semi-analfabeto que sempre se imaginou. De fato não recebeu a educação esperada para um futuro Chefe de Estado, mas ainda assim fora muito melhor do que a recebida pela maior parte dos seus contemporâneos e mesmo atualmente. A instrução deficiente que recebeu não o impediu de sempre buscar aprimorar seus conhecimentos e o príncipe fora na realidade um autodidata. Se tivesse sido educado conforme a sua posição como herdeiro do trono exigia, teria "sido um príncipe quase perfeito". Napier diria a seu respeito: "As suas boas qualidades eram propriamente suas; as más, devido à falta de educação; e homem nenhum conhecia melhor este defeito do que ele mesmo".
Pedro tinha clara noção da falha em sua educação e buscava aconselhar tantos os seus filhos legítimos como os ilegítimos a estudarem e não cometerem o mesmo erro que ele próprio cometera. Sabia também do valor da educação e uma de suas primeiras medidas como regente fora a extinção de qualquer tributação sobre livros importados e a abolição da censura prévia. Criou cursos jurídicos e relegou ao Estado a obrigação de manter escolas primárias.

Casamento

Em 1818, quando tinha 19 anos, casa com a arquiduquesa Leopoldina, filha do imperador Francisco I da Áustria, e de sua segunda esposa, Maria Teresa de Bourbon, princesa das Duas Sicílias, de um ramo dos Bourbons franceses. Francisco I e Maria Teresa foram os últimos imperadores do Sacro Império Romano-Germânico e os primeiros da Áustria. Leopoldina era sobrinha-neta da rainha Maria Antonieta e irmã da segunda imperatriz dos franceses Maria Luísa da Áustria.
A cerimônia foi realizada na Igreja de Santa Ifigênia, na Rua da Alfândega, tendo o cortejo nupcial desfilado pelo que é hoje a Rua Primeiro de Março. Nela, dizem os historiadores que se dançou pelas ruas o Catupé, variedade de congo, antigamente ligado a festejos religiosos e, depois, ao carnaval. Do enlace nasceram, entre outros filhos, Maria da Glória (1819), Rainha de Portugal como Dona Maria II, e Pedro de Alcântara (1825), sucessor do pai como Imperador do Brasil com o título de Pedro II.
Viúvo desde 11 de dezembro de 1826, em agosto de 1829 contrai segundas núpcias por procuração com Amélia
de Beauharnais, princesa da Baviera, Duquesa de Leuchtenberg, neta da imperatriz Josefina da França, esposa repudiada de Napoleão Bonaparte

A Revolução em Porto e o retorno a família real


Em março de 1816, com a morte de Maria I, a Louca e a elevação de seu pai a Rei de Portugal, recebeu o título de Príncipe Real e Herdeiro do Trono (o irmão mais velho, Antônio Príncipe da Beira, falecera em 1801). Irrompe então a revolução constitucionalista de 1820, exigindo a restituição do Pacto Colonial e o retorno da família real ao reino.

João VI a ignora, mas devido à pressão popular do clero, da nobreza e da burguesia portuguesa, em 1821 decide retornar à metrópole depois de cerca de treze anos no Rio de Janeiro. Em Portugal, as Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa já iniciavam a elaboração da Constituição do reino. Mas esta decisão régia foi mal recebida no Brasil.

Ao voltar a Portugal, João VI deixa seu filho Pedro I como Príncipe Regente do Brasil. Os direitos concedidos ao Brasil, entretanto, foram sendo rescindidos pelas cortes. Pedro I então alinha-se ao descontentamento brasileiro provocado pelas medidas portuguesas

Dia do Fico



Preocupada com a evolução do Brasil, a elite política portuguesa pressionava as cortes que redigiam a
Constituição Portuguesa a rebaixar novamente à categoria de colônia o Brasil (que tinha sido elevado à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves). Pressionado por essas cortes, João VI assinou um documento que tornava inefetivo o título de príncipe regente do Brasil concedido a Pedro I. Uma ordem judicial exigiu a volta imediata do príncipe a Portugal. Foi enviada uma frota ao Rio de Janeiro, destinada a repatriá-lo.
Após ter recebido um abaixo-assinado com 8 000 assinaturas (conhecido como Petição do Fico) que pedia que permanecesse no Brasil, o regente recusou-se a embarcar para a Europa e, em 9 de janeiro de 1822, pronunciou, em um episódio que ficou conhecido como o Dia do Fico, a frase histórica: Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico!, declarando, também, que nenhuma ordem das Cortes Portuguesas seria cumprida no Brasil sem a sua autorização.

Proclamação da independência


Em abril, a popularidade do príncipe foi comprovada durante uma viagem a Minas Gerais. De lá seguiu para São Paulo, a fim de pacificar rebeliões na província. Em 7 de setembro, quando ia de Santos para a capital paulista, recebeu notícias de Portugal por cartas de José Bonifácio e da esposa Maria Leopoldina da Áustria, contando-lhe que havia promulgado a independência brasileira, uma vez que a corte portuguesa exigia o seu retorno e com isso não acontecendo, programava uma ação militar contra o Brasil. Foi então que, junto ao Riacho do Ipiranga (São Paulo), o herdeiro de João VI proferiu o famoso Grito do Ipiranga: "Independência ou Morte!".
Pedro I contou, naturalmente, com o apoio do "povo" e, de volta ao Rio de Janeiro, em 12 de outubro, foi proclamado imperador e "defensor perpétuo do Brasil". Em 1 de dezembro foi sagrado e coroado. A Independência do Brasil foi contestada em território brasileiro por tropas do Exército Português, especialmente nas regiões onde, por razões estratégicas, elas se concentravam, a saber, nas então Províncias Cisplatina, da Bahia, do Piauí, do Maranhão e do Grão-Pará (Guerra da Independência do Brasil). A Independência foi oficialmente reconhecida por Portugal e pelo Reino Unido somente em 1825.

Rei da Grécia


Após cerca de quatrocentos anos de domínio opressivo turco, as antigas províncias do Império Romano do Oriente (erroneamente, mas popularmente chamado de Império Bizantino) na região dos Bálcãs estavam conseguindo sua liberdade. Apesar da recusa dos países ocidentais em colaborar com as insurreições contra o Império Otomano, diversos europeus se voluntariaram espontaneamente para combater ao lado dos cristãos orientais. Contudo, não havia Casas Principescas, Reais ou Imperiais nativas nos países balcânicos.
A dinastia comnena e a dinastia paleóloga, que imperaram em Constantinopla, tinham-se extinguido cerca de quatrocentos anos antes. A Grécia, um dos novos países que surgiram das insurreições que perduraram por todo o século XIX, buscou um príncipe estrangeiro para ocupar seu trono vago.
Os gregos enviaram emissários a João VI para propor que o seu filho mais velho, Pedro, viesse a tornar-se o primeiro Rei da Grécia independente. Pedro, apesar de membro da Casa de Bragança (que por sua vez era um ramo português da dinastia capetíngea), era descendente dos imperadores romanos da dinastia comnena e paleóloga. Para os portugueses, a proposta era-lhes muito interessante, pois acreditavam que com o príncipe longe do Brasil poderiam impedir a independência do Brasil e retorná-lo à condição de simples colônia. As mensagens dos gregos com a oferta do trono heleno alcançaram Pedro logo após os acontecimentos do Dia do Fico, mas o:
[…] "príncipe regente, porém, não traiu a confiança nele depositada pela nação brasileira, que o aclamaria seu Defensor Perpétuo. Amando verdadeiramente o povo da pátria que o viu nascer e tendo a intuição profunda da missão histórica que lhe seria dada desempenhar na terra bárbara e selvagem do Novo Continente, resistiu à vaidade de ostentar em sua fronte o diadema da pátria de Homero e de Péricles".
"E, assim, o Príncipe D. Pedro, primeiro imperador do Brasil, recusou a coroa dessa Grécia imortal, berço maior da cultura humana".
Com a recusa de Pedro, os gregos optaram em 1832 pelo príncipe Oto da Casa de Wittelsbach como seu rei e após sua deposição, ocorrida em 1862, escolheram Jorge, príncipe da Dinamarca, da Casa de Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glücksburg, ramo cadete da dinastia de Oldemburg.

Rei de Portugal e dos Algarves


O rei João VI faleceu em 10 de março de 1826. Pressentindo o seu fim, e desejando evitar que sua esposa tomasse o poder, o monarca português nomeou sua filha dona Isabel como um dos membros da regência que perduraria até que Pedro recebesse a notícia de sua ascensão ao trono lusitano. Pelo tratado de reconhecimento da independência brasileira, Pedro manteria sua posição como Príncipe Real e herdeiro da coroa portuguesa. Mas a Constituição Brasileira de 1824 proibia qualquer possibilidade de união do Brasil com outro país.Isabel logo enviou um oficial para o Brasil para avisar seu irmão do falecimento de João VI. O imperador tornava-se então D. Pedro IV, Rei de Portugal e dos Algarves daquém e d'além-mar, em África Senhor da Guiné, e da Conquista, Navegação, Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia, e da índia, etc.
Pedro I era defensor do liberalismo e constitucionalismo, enquanto o seu irmão Miguel era o representante da causa absolutista. A morte de João VI criou um problema de sucessão do trono: por um lado, Pedro não podia acumular os cargos de rei de Portugal e imperador de um Brasil independente; por outro lado, o seu irmão Miguel tinha participado por duas vezes em tentativas de assassínio do seu pai e não era visto com bons olhos pelos portugueses.
Em 1826, Pedro torna-se Rei de Portugal, tendo abdicado cerca de sete dias depois em favor da sua filha Maria da Glória e regressado novamente ao Brasil, já que a constituição brasileira não lhe permitia ser monarca de dois países. Ficou acordado que Portugal manteria a constituição por ele aprovada e que a sua filha Maria se casaria com Miguel. Esperava-se assim com este matrimônio selar um armistício entre liberais e absolutistas portugueses.
Rainha Maria II de Portugal
Miguel aceitou o consórcio e partiu da Áustria onde estava exilado desde que realizara um golpe de Estado para
destronar seu pai. Ao chegar a Portugal, fez pela segunda vez (a primeira ocorrera ainda em Viena) o juramento de aceitação da nova constituição e do casamento com sua sobrinha, assumindo a regência em nome desta. Porém, aliando-se aos sectores mais conservadores da nobreza, foi proclamado Rei de Portugal a 23 de julho de 1828. Isto provocou o início das Guerras Liberais portuguesas, uma guerra civil entre os liberais partidários de Pedro e os absolutistas partidários de Miguel.
Pedro viu-se assim forçado a regressar a Portugal para lutar pela causa liberal e pelo reconhecimento do direito da sua filha ao trono português. Em 1831, Pedro abdica da coroa do Brasil em favor de seu filho Pedro II e parte para Portugal, primeiro para os Açores, onde irá consolidar apoios e preparar uma armada capaz de invadir Portugal. O desembarque desta armada, a norte da cidade do Porto é conhecido como o Desembarque do Mindelo. Seguiram-se numerosas batalhas, com graves perdas para ambos os lados, culminando em 1834 com a vitória dos liberais, o regresso de Maria II à coroa e o exílio de Miguel para a Alemanha.

Rei da Espanha e Imperador da Ibéria

A Espanha passava por um período de repressão sem precedentes desde a restauração da Casa de Bourbon ao trono com a queda de Napoleão Bonaparte. Fernando VII, Rei da Espanha e irmão de Carlota Joaquina, completamente inabalável em relação ao seu sentimento absolutista, extingue a constituição e ordena a prisão em massa dos espanhóis que defendiam o liberalismo. A imprensa foi censurada e eliminou-se qualquer vestígio das garantias individuais. A Espanha entra num caos que perduraria durante todo o século XIX até o final da Guerra Civil espanhola na primeira metade do século XX. Os conflitos entre absolutistas e liberais atingem proporções internacionais, criando instabilidade também nos países vizinhos, como Portugal e França.
Em 1826, os liberais espanhóis ofereceram a coroa de seu país a Pedro, a quem consideravam um "bem-feitor dos Povos" e muito "digno", e que resultaria na unificação do Império do Brasil, do Reino de Portugal e dos Algarves e do Reino da Espanha sob sua pessoa. Se tivesse aceitado, Pedro imperaria sobre um império que se estenderia de Cuba, passando pelo Brasil, pelo continente africano nas colônias de Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe, e atingindo no extremo oriente em Macau e nas Filipinas. Mas não o aceitou, alegando que era necessário primeiramente consolidar o império brasileiro e repetira tal asserção três anos mais tarde, após uma nova proposta por parte dos espanhóis.
Contudo, a situação se agravou na Espanha durante este período com o falecimento de Fernando VII. Seu herdeiro era seu irmão mais novo, Carlos, mas o rei modificara as regras de sucessão para beneficiar sua filha, Isabel, que se tornou rainha com a sua morte. Carlos não aceitou a perda do trono e aliou-se aos absolutistas, que formaram a facção dos carlistas que viria a causar grandes problemas a Espanha durante todo o século XIX. No ano de 1830, os liberais mais uma vez se voltaram para Pedro I e propuseram dessa vez que se tornasse o Imperador da Ibéria, resultado da unificação de Portugal com a Espanha..
Desta vez, entretanto, o monarca brasileiro aceitou a proposta e realizou os preparativos para partir para a Europa e derrotar os absolutistas em favor dos constitucionalistas. A aceitação da oferta da coroa imperial da península Ibérica seria uma das razões que levaria Pedro a abdicar do trono brasileiro

Morte

Foi sepultado no Panteão dos Braganças, na Igreja de São Vicente de Fora em Lisboa. O seu coração foi doado, por decisão testamentária, à cidade do Porto, encontrando-se conservado na Igreja da Lapa, no Porto, como relíquia, num mausoléu na capela-mor da igreja, ao lado do Evangelho. Em 1972, no sesquicentenário (150 anos) da Independência, seus despojos foram trasladados do panteão de São Vicente de Fora para a cripta do Monumento à Independência, localizado no Museu do Ipiranga em São Paulo, Brasil.As cortes de agosto de 1834 confirmam a regência de Pedro I, que repõe a filha no trono português. Apesar de ter reconquistado o trono português para sua filha, Pedro I voltou tuberculoso da campanha e morreu em 24 de setembro de 1834, pouco depois da Convenção de Évoramonte (que selara a vitória da causa liberal, de que se fizera paladino), no palácio de Queluz, no mesmo quarto e na mesma cama onde nascera 35 anos antes. Ao seu lado, na hora da morte, estavam Amélia e Maria II.
Atualmente, os restos mortais do imperador repousam ao lado de sua primeira esposa, a imperatiz Leopoldina e da segunda esposa, imperatriz Amélia.
Túmulo de Pedro I na Capela Imperial, subsolo do Monumento à Independência, no Ipiranga, cidade de São Paulo, Brasil.
Entre fevereiro e setembro de 2012 foram realizadas pela Faculdade de Medicina da USP, sob sigilo, exumações nos restos mortais de Pedro I e suas duas esposas, Leopoldina e Amélia, revelando estatura e detalhes físicos.
Descobriu-se que o imperador tinha quatro costelas fraturadas do lado esquerdo, o que praticamente inutilizou um de seus pulmões - fato que pode ter agravado a tuberculose que o matou, aos 36 anos. Os ferimentos constatados foram resultado de dois acidentes a cavalo (queda e quebra de carruagem), em 1823 e 1829, ambos no Rio de Janeiro.
No caixão de Pedro I não havia nenhuma comenda ou insígnia brasileira entre as cinco medalhas encontradas. O primeiro imperador do Brasil foi enterrado como general português, vestido com botas de cavalaria, medalha que reproduzia a constituição de Portugal e galões com formato da coroa do país ibérico. A única referência ao período em que governou o Brasil está na tampa de chumbo de um de seus três caixões: a gravação Primeiro Imperador do Brasil, ao lado de Rei de Portugal e Algarves.
O corpo de Maria Amélia só foi trasladado para o Brasil em 1982, por iniciativa do governador Paulo Salim Maluf. Durante todo o tempo que esteve em Portugal, o corpo de Maria Amélia repousou ao lado do corpo do irmão de Pedro I, Miguel, no Panteão dos Braganças, em Lisboa. 

Exumação do corpo de dom Pedro I em 2012

Em fevereiro de 2013, foi divulgado que uma equipe de pesquisadores da USP exumou os corpos de Pedro I e de suas esposas, Dona Leopoldina e Dona Amélia, tendo sido coordenados pela historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel. Os corpos, examinados pelo Hospital das Clínicas de São Paulo, ajudaram a desmentir algumas teses reproduzidas em livros de história. Por exemplo, os exames descobriram que a imperatriz Leopoldina não tinha nenhum osso quebrado, o que teria sido causado após uma queda de escada em decorrência de briga com o marido.

Dom Pedro I na Maçonaria

A iniciação de D. Pedro contribuiu fortemente para o processo de emancipação brasileira e isto interessava à Maçonaria como também interessava a D. Pedro estar apoiado pelos Maçons, já que formavam à época uma forte corrente política, sendo o segundo grão-mestre do Grande Oriente do Brasil. Do seu legado maçônico destaca-se desde logo o Hino Maçônico Brasileiro, para o qual escreveu música e letra. Curiosidade: Dom Pedro I não era um firme defensor dos ideais maçons no Brasil. Apesar de ser grão-mestre da maçonaria, Dom Pedro proibiu as atividades da ordem no Brasil (1822). alguns dizem que D. Pedro I fechou o Grande Oriente do Brasil porque a Maçonaria se dividia em dois grupos. Embora ambos os grupos apoiassem fortemente a independência do Brasil, um dos grupos, liderados por José Bonifácio, apoiava a ideia de uma Monarquia Constitucionalista, enquanto que o outro grupo, liderado por Gonçalves Ledo, defendia já a proclamação da República, outra hipótese é que o Papa Pio VII acusou de hereges a todos os maçom, e que seriam excomungados, naquela época a igreja ainda tinha muito poder sobre a realeza.

Títulos

  • 1798-1816: Sua Alteza Real, o Príncipe da Beira(título conferido ao primogênito do herdeiro presuntivo da Coroa de Portugal)
  • 1816-1822: Sua Alteza Real, o Príncipe Real do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves
  • 1822-1831: Sua Majestade Imperial, o Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil
  • 1826-1828: Sua Majestade Imperial & Fidelíssima, O Imperador do Brasil e Rei de Portugal
  • 1828-1834: Sua Majestade Imperial e Real, o Duque de Bragança

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